Um em cada dois médicos de Rio Preto e região já foi vítima de violência

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Pesquisa com a participação de 354 médicos e apresentada por diretores da APM – Regional de Rio Preto revela que violência contra médicos em São José do Rio Preto e cidades da região está em alta realizada.

Veja os resultados da pesquisa ao final deste texto

Segundo o levantamento, um em cada dois médicos já sofreu agressão por parte de pacientes e familiares. Os episódios vão desde ataques físicos a psicológicos, passando por situações de assédio sexual. 

O arrefecer da truculência, mesmo em um momento em que os médicos têm exposto suas vidas e de seus familiares para salvar os acometidos pela Covid-19, já provoca reações das entidades representativas da classe. A AMB acionou sua assessoria parlamentar em Brasília, na primeira hora desta quinta-feira (29), solicitando que deputados e senadores sejam contatados imediatamente e cobrados a dar celeridade à aprovação do Projeto de Lei n° 6749 de 2016. O PL tipifica de forma mais gravosa os crimes de lesão corporal, contra a honra, ameaça e desacato, quando cometidos contra médicos e demais profissionais da saúde no exercício de sua profissão. 

“Lamentavelmente, as mazelas no sistema público e da rede suplementar são recorrentes e os pacientes sofrem na pele. São dificuldades para o acesso, demora para atendimento, falta de leitos, de medicamentos, de profissionais, entre outras”, argumenta César Eduardo Fernandes.

“A indignação dos pacientes e familiares é justificável, somos solidários a eles. O problema é que alguns jogam sobre nós a responsabilidade da má-gestão da saúde, nos culpam por falhas estruturais. Isso é um equívoco inadmissível. Uma coisa é defender a cidadania, outra é calar ante a selvageria”. 

Segurança Pública e Ministério da Justiça são acionados

A Regional da APM de Rio Preto enviou ofícios, anexando a pesquisa, ao prefeito de Rio Preto, Edinho Araújo, ao secretário municipal de Saúde, Dr. Aldenis Borim, ao Ministério Público e à Delegacia Seccional de Polícia Civil pedindo providências urgentes para garantir a segurança dos profissionais de São José do Rio Preto e região.

O mesmo foi feito pela APM Estadual, que acionou os Ministérios da Justiça e da Saúde, o Governo do Estado de São Paulo, as Secretarias de Segurança Pública e Saúde, além da Procuradoria Geral de Justiça.

“Os números escancaram a dura e péssima realidade que os médicos vivem. É muito mais grave do que imaginávamos. A agressão aos profissionais da saúde, embora não seja nenhuma novidade, segue sendo muito pouco discutida e, em geral, subnotificada, havendo uma tendência ao aumento de casos em períodos de estresse social, a exemplo da corrente pandemia de COVID-19″, afirma o presidente da Regional rio-pretense.

“A população não se sente acolhida e nem devidamente assistida pelo nosso poder público. O médico, sempre na linha de frente, representa a tristeza, a indignação pela doença, a demora no resultado do tratamento, representa o secretário de saúde, o prefeito, a ineficácia eventual do serviço público, por fim, acaba sendo ele a opção que o paciente tem de descontar seus sentimentos frustrados. Infelizmente, o profissional da saúde não é assediado somente pelo paciente, mas também por seus gestores, superiores, colegas de trabalho e outros profissionais da saúde”, completa Dr. Leandro Colturato.

Para Dra. Paula, o que fica claro é a necessidade imediata do resgate da profissão, que cuida de vidas, por vezes, como visto nos últimos 18 meses, expondo a riscos, a si e seus familiares, para trazer o cuidado aos pacientes. “A APM Regional de Rio Preto jamais medirá esforços e lutará com todas as forças para que estes números mudem a cada dia e transforme nossa cidade e região em referência na seguridade médica”, declara a diretora de Defesa de Classe. 

“Faz anos que as pesquisas apontam o agravamento da violência”, pontua Marun David Cury, diretor de Defesa Profissional da Associação Paulista de Medicina. “Temos uma emergência de saúde pública e as autoridades responsáveis nos devem respostas e soluções. Além do fator humano, de garantia da integridade do médico, há outra questão: toda vez que sofremos um ataque desses e somos obrigados a nos afastar da linha de frente, aumentam os buracos da assistência”.

O presidente da APM, José Luiz Gomes do Amaral, pondera que a violência na saúde não é alarmante apenas no Brasil; é fragilidade comum aos países com falta de justiça social. 

“Os serviços de saúde nas periferias e até em consideradas áreas de melhor poder aquisitivo apresentam insuficiências. Isso acaba em transferência da revolta à gestão e aos responsáveis pelo sistema para quem está cuidando do cidadão na linha de frente”.

    

Números da pesquisa

Essa é a primeira pesquisa da história, exclusivamente com médicos de Rio Preto, sobre violência. Foi motivada pelo aumento das denúncias informais de agressão para a Regional APM.

Assim, para compreender a extensão do problema, houve entre 5 e 19 de março de 2021, um levantamento junto aos profissionais por intermédio da plataforma on-line Survey Monkey. Em termos estatísticos, o retorno é excelente: 354 médicos responderam ao questionário, 68% homens e 32% mulheres.

Dessa amostra, 63,28% já tiveram o dissabor de assistir algum colega da saúde sofrer violência, sendo que 44,92 (praticamente um a cada dois) foram vítimas de agressões.  

Os números de São José do Rio Preto se aproximam de outros, alarmantes, de pesquisas estaduais. Em 2018, levantamento do Conselho Regional de Medicina dava conta de que a taxa no estado era de 7 vitimados em cada 10. 

Os dados da região também se aproximam aos do conjunto da América Latina: 66,70%, em 2015, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde. 

A agravante é a de que a estrutura de SJRP para garantir a segurança dos médicos e demais profissionais é extremamente insuficiente. Conforme a pesquisa da APM SJRP, na saúde pública, esse aparato só é perceptível para 17,80% dos que responderam; enquanto na saúde privada a percepção é de 30,79%.