Ação performativa 436 relembra vítimas da ditadura no Sesc Rio Preto

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Nos dias 10 e 11 de dezembro quem for ao Sesc Rio Preto pode relembrar as vítimas da ditadura militar brasileira.  O performer Alexandre D’Angeli monta máscaras . Elas  simbolizam o rosto das 436 pessoas que morreram ou desapareceram durante o regime.  A ação performativa 436, segunda da trilogia Palavra, Imagem e Memória (a primeira foi Objetos de Valor) resultará em obra que ficará exposta no local.

Alexandre estará sentado em uma mesa com duas cadeiras.  Junto com os visitantes da unidade, irá montar 40 máscaras de papel que trazem os nomes de pessoas que foram assassinadas pela ditadura ou estão desaparecidas. Como um brinquedo de encaixe, todas as peças estão organizadas em três folhas A4 brancas.  Ao serem destacadas possibilitam criar uma volumétrica do rosto humano. Durante o encontro, o sujeito recebe do artista as instruções em silêncio, que indica os locais a serem destacados, dobrados e colados, até a finalização total da peça.

“A ideia é trazer à tona um pouco da história do nosso país que ainda continua um tanto quanto obscura. Na cultura brasileira, o esquecimento é muito presente. E nessa ação, a ideia é provocar o público.  Lembrar ou conhecer esses sujeitos que, mais do que rostos muitas vezes esquecidos, são pessoas que tinham família. Tinham uma história e faziam parte da vida de pessoas que até hoje, em sua grande maioria, continuam sem uma explicação”, afirma.

 

História mais próxima do público

Alexandre diz que esse trabalho vai no cerne do tema memória: “o relato do sobrevivente, bem como ações artísticas como é o caso de 436, ajudam a quebrar os pactos de silêncio estabelecidos e retificados socialmente. Tendo em vista que cerca de 60% da atual população brasileira não viveu os tempos de Ditadura Civil-militar, tem-se aí mais um motivo para que se fale. Que se produzam estudos sobre o período, bem como exista uma tomada de posição da parte de artistas.  Eles, em  suas práticas podem contribuir positivamente para a construção de novas memórias, menos amedrontadas e mais fidedignas”.

Cada máscara recebe uma etiqueta azul (para as pessoas que continuam desaparecidas) ou vermelha (para os mortos) com o nome completo de uma das vítimas. Nas etiquetas, será possível achar figuras como Zuzu Angel, Tito de Alencar Lima (o Frei), Vladimir Herzog e Rubens Beirodt Paiva. Após montadas, as máscaras, juntas, formarão uma instalação que ficará exposta no Sesc Rio Preto, por período ainda a ser determinado.

 

Versão compacta em Rio Preto

A performance 436 aconteceu em 2014, ano que o Golpe Militar completou 50 anos, no Memorial da Resistência de São Paulo. Durante 30 dias, o performer Alexandre D’Angeli ficou oito horas dentro do museu e conseguiu junto com o público confeccionar as 436 máscaras, que estão atualmente expostas no local.

Em São José do Rio Preto, o artista fará uma versão compacta do trabalho, com a montagem de apenas 40 máscaras durante dois dias. “Realizei essa versão mais enxuta durante a V Bienal de Performance de Bogotá (Colômbia) e o resultado foi também muito impactante”, revela D’Angeli.

 

Live Art

Esse é o primeiro trabalho de Alexandre D’Angeli com forte ligação às artes visuais, uma vez que o seu resultado final fica exposto. O artista tem uma pesquisa muito focada na questão do gestual e do corpo. “Me interessa muito estudar o movimento ou a presença do corpo durante uma ação performativa. Em 436, apesar de eu não ser o foco da ação, minha presença lá acaba despertando o interesse do público também. Será fundamental o foco na capacidade de estar e na percepção desse “algo” que acontece no encontro com o outro”, explica.

Serviço 436

436 – Performance com Alexandre D’Angeli. Dias 10 e 11 de dezembro, sábado e domingo, das 10h às 19h, no Sesc São José do Rio Preto. GRÁTIS.

SESC RIO PRETO – Avenida Francisco das Chagas Oliveira, 1333, Chácara Municipal. Telefone – (17) 3216-9300.