A Vila Galé anunciou nesta terça-feira (28) a abertura do processo seletivo de 120 vagas para o novo hotel de Ouro Preto, em Minas Gerais. O anúncio foi feito pelo fundador e presidente da rede, Jorge Rebelo de Almeida, durante uma coletiva de imprensa realizada para informar o início das obras de restauração do prédio histórico Dom Bosco. No evento, o presidente falou ainda sobre o impacto na economia do Estado, já que o investimento dobrou, passando dos R$ 60 milhões previstos inicialmente para R$ 120 milhões. Agora, o empreendimento contará com 298 quartos.
Nesta primeira fase, 300 candidatos selecionados serão capacitados em cursos na área de turismo e hotelaria em parceria com a Secretária de Desenvolvimento Econômico de Ouro Preto e da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Desses, 120 serão contratados e irão fazer parte do quadro de funcionários do Vila Galé Collection Ouro Preto – Historic, Family Resort Hotel, Conference & SPA.
“Sempre que abrimos um hotel em uma nova cidade, gostamos de incentivar a capacitação profissional. Mesmo que nem todos os participantes atuem neste primeiro momento conosco, eles estarão preparados para outras vagas na cidade e na região, proporcionando aos turistas e clientes uma ótima experiência”, explicou Jorge Rebelo de Almeida.
Os currículos podem ser enviados por meio do e-mail [email protected], com a descrição no assunto: “Vaga em Ouro Preto”.
Durante o evento, Jorge Rebelo de Almeida anunciou ainda que as obras iniciaram e apresentou o projeto do novo hotel. Os convidados puderam conferir em primeira mão dois quartos decorados: um em homenagem ao Museu da Inconfidência, dedicado à preservação da memória da Inconfidência Mineira, e outro em homenagem a Igreja de São Francisco de Assis, que é uma celebração às criações do mestre Aleijadinho, responsável pelo projeto da fachada e da decoração em relevos e talha dourada.
O empreendimento, que receberá um investimento maior do que o previsto inicialmente, passa a contar com297 quartos, dois restaurantes, dois bares, sete salas de convenções, um auditório, uma capela, biblioteca, sala de jogos, Spa Satsanga com piscina interior aquecida e sauna, Clube Infantil NEP com parque aquático, lago, ecoturismo, tirolesa, biblioteca, plantio de azeitonas e uvas, entre outros atrativos.
“Enquanto fazíamos o projeto, vimos que poderíamos aproveitar ainda mais o terreno e incluímos novas atrações. O investimento aumentou em R$ 60 milhões, impactando não só a economia de Ouro Preto, como a do Estado. Nós acreditamos muito no potencial de Minas Gerais”, concluiu o presidente da Vila Galé.
Preservação de Patrimônio
Dos 42 hotéis da rede, nove estão em prédios históricos que foram recuperados: Vila Galé Collection Braga, Vila Galé Collection Palácio dos Arcos, Vila Galé Collection Elvas, Vila Galé Collection Alter Real, Vila Galé Albacora, Vila Galé Collection Tomar, Vila Galé Collection São Miguel e Vila Galé Rio de Janeiro.
Esse número chegará a 11 hotéis com o Vila Galé Collection Sunset Cumbuco, que possui previsão de inauguração em 2024, e o Vila Galé Collection Ouro Preto – Historic, Family Resort Hotel, Conference & SPA, com previsão de inauguração da primeira fase deste hotel em dezembro de 2024.
O Quartel Colégio Hotel de Cachoeira do Campo
No Brasil, já desde 1643 que as terras altas, na abertura do Rio Doce, eram alvo dos interesses da colônia americana de Portugal. A sonhada descoberta do ouro vai realizar-se no meado da década de 1670 pelo adentramento das expedições paulistas. Para além da Serra do Mar e da Serra da Mantiqueira, o eldorado brasileiro aguardava a chegada das legiões humanas que logo o povoaram.
A fundação da povoação de Cachoeira do Campo deu-se em 1705. A primeira construção importante de cunho civil e público foi um quartel, num ponto estratégico que Dom Pedro de Almeida, Conde de Assumar e futuro Marquês de Alorna, quis aproveitar e reforçar enquanto local de defesa. Eclodia, entretanto, a sedição de Vila Rica (atual Ouro Preto), a 28 de junho de 1720, que terminou com a prisão, em Cachoeira do Campo, do tribuno popular Felipe dos Santos Freire. Após este acontecimento, Dom Pedro de Almeida pretendeu mudar a capital da província de Mariana para Cachoeira do Campo, onde os governadores-capitães-generais passariam a residir e onde se instalaria uma casa de fundição. Aí, Dom Pedro de Almeida mandou levantar um quartel e, em 1735, as terras de Cachoeira tornaram-se sede unida do governo civil e militar de Vila Rica (hoje Ouro Preto). É aqui que fica então alojado o esquadrão de cavalaria que estava antigamente na Vila do Carmo, em Mariana.
Neste contexto de reorganização das forças militares portuguesas, entra em funcionamento em 1779 o novo Quartel do Regimento de Cavalaria de Minas Gerais, embora sua história remonte, pois, às primeiras décadas do século XVIII e a episódios marcantes da história mineira, como a Guerra dos Emboabas (1709), a Revolta de Felipe dos Santos (1720), a Inconfidência Mineira (1789) e, mais tarde, a Sedição Militar ou Revolta do Ano da Fumaça, em 1833, período em que serviu para fins militares pela última vez.
Efetivamente, ao longo dos tempos sucederam-se ampliações destas instalações, com mais espaço para albergar militares e os seus cavalos, tendo sempre as forças em prontidão. Nas proximidades do Quartel, ergueu-se o Palácio dos Governadores, no qual eles veraneavam, deixando Vila Rica (Ouro Preto) em razão do excelente clima de Cachoeira do Campo. Durante o Palácio, hohe desaparecido, foi o sítio de recreio, repouso e residência de férias da corte das Minas.
Em 1816, nas terras do núcleo colonial e nalguns edifícios, fizeram-se adaptações para acolher a Coudelaria Real de Cachoeira do Campo, que viria a ficar pronta em julho de 1819. Dom João VI destinou a essa Coudelaria parte dos cavalos que mandou trazer de Alter do Chão. Funcionava como um centro de criação e aprimoramento de cavalos de raça e era aqui que se criavam os cavalos para a tropa e os carros reais utilizados até na corte do Rio de Janeiro.
Mais tarde, já com Dom Pedro II, a população de Cachoeira do Campo pede que a propriedade tenha uma finalidade social mais relevante, pelo que o monarca acaba por desistir da coudelaria. Optando-se pela distribuição de terras a colonos, em 1889 é inaugurada a colónia agrícola D. Pedro II que, com o advento da República, recebeu o novo nome de Cesário Alvim, primeiro governador republicano de Minas Gerais. Contudo, o governo mandou suspender o processo e a propriedade ficou sem utilização.
Surge a ideia de convidar os salesianos para fundarem um estabelecimento agrícola, à semelhança dos que já tinham noutras regiões. Em 1893, as terras são-lhes oficialmente cedidas, com a contrapartida de recuperarem os edifícios, bastante degradados e invadidos pelo mato, e de ali instalarem uma escola agrícola. O padre salesiano Agostinho Crucifico Zanella foi o encarregado da reconstrução e a 24 de maio de 1896 era inaugurado o Colégio Dom Bosco. Destinada, inicialmente, a formar engenheiros agrícolas, foi a primeira casa salesiana de Minas. E aqui encontram-se relíquias como a primeira imagem de N. Sra. Auxiliadora a entrar em terra mineira, um grande relógio de sol situado no pátio interno, e a primeira serralharia hidráulica do Brasil, construída no início do século XX.
A partir de Cachoeira do Campo, os salesianos foram pioneiros da agricultura mecanizada em Minas, incentivando as autoridades locais a modernizarem os seus processos agrícolas. Nas décadas que se seguiram, a atividade educativa prosseguiu, cruzando-se depois com utilização religiosa do espaço por parte da comunidade salesiana. Já nos últimos tempos de ocupação, chegou também a albergar trabalhadores de empresas das redondezas.
Em maio de 2023, o grupo hoteleiro Vila Galé e o Governo de Minas Gerais oficializaram a concessão do espaço para abertura de um hotel em Ouro Preto, num investimento de R$ 120 milhões, que vai gerar 120 empregos permanentes diretos e 600 postos de trabalho indiretos.
O Colégio Dom Bosco é um prédio histórico classificada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG). O Colégio Dom Bosco é considerado um dos berços da liberdade no Brasil. Construído pelo governador Dom Antônio de Noronha, entre 1775 e 1779 para albergar a recém-formada Cavalaria do Regimento das Minas, conforme escrito na tarja da sua porta externa, que, segundo os historiadores, é atribuída à talha do Aleijadinho (arquiteto e escultor António Francisco Lisboa).
O quartel, como era chamado na altura, foi uma das sedes do movimento da Inconfidência, onde trabalhava e se tornou alferes o Tiradentes (alferes Joaquim José da Silva Xavier). Ali reuniu-se uma tropa de três mil homens, em 1775, para descer ao Rio de Janeiro e embarcar com destino a Santa Catarina, a fim de enfrentar uma possível invasão espanhola. O Tratado de Santo Idelfonso, em 1777, pôs fim ao conflito e a tropa retornou. O Aleijadinho integrou essa legião, como arquiteto, pois devia projetar quarteis portugueses em Santa Catarina.
O valor patrimonial deste conjunto arquitetônico, paisagístico e arqueológico está nas suas edificações sede e adjacentes, alteradas ao longo do tempo, mas sobretudo no significado que as instituições ali instaladas, uma após a outra, tiveram para a memória local, estadual e nacional.
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