Impactos da pandemia
Prof. Dr. Sthefano Atique Gabriel*
O ano de 2020 ainda não chegou ao fim,entretanto, seu impacto e suas cicatrizes já estão eternizados em nossas memórias. Até o momento, mais de um milhão de vidas foram ceifadas em todo o mundo. Fruto das repercussões sociais, econômicas, políticas e no sistema de saúde, que vivenciamos diariamente com as notícias oriundas da pandemia do novo Coronavírus, algumas mudanças foram marcantes e inevitáveis.
A máscara facial ocultou o brilho do sorriso, o aperto de mão deu lugar ao álcool gel, o contato humano foi substituído pelo distanciamento social, o home office tornou-se a modalidade de trabalho mais procurada, as reuniões empresariais foram realizadas em plataformas virtuais, as aulas em universidades foram ministradas no método ensino à distância, as consultas médicas podem ser realizadas por telemedicina e o agradável momento de descanso e interação entre amigos e familiares durante a pausa para refeições foram suprimidas pelo serviço de retirada ou de delivery.
Tão ávidos e curiosos como no clímax da disputa eleitoral, nossos olhares devoram as mídias na busca constante por confiáveis atualizações estatísticas a respeito da pandemia. Informações úteis como cuidados com a própria saúde, oportunidades de aprimoramento profissional e opções de inserção no mercado de trabalho sucumbiram à relevância dos dados epidemiológicos.
Exaustos das incertezas e das preocupações decorrentes da pandemia, provavelmente o desejo de muitos seria levantar pela manhã, abrir jornais e sites de notícias e ser agraciado com o furo de reportagem de que a pandemia rendeu-se à eficácia da vacina e/ou de algum medicamento contra o novo Coronavírus.
Em curto espaço de tempo, vamos vivenciar esta realidade.
Por enquanto, devemos manter nossas esperanças nos profissionais de saúde que estão na linha de frente e torcer pelo êxito dos cientistas que lutam para nos proporcionar uma solução para a infecção viral.
Mas, e se a pandemia, de fato, acabasse amanhã? Tudo voltaria ao normal como anteriormente? O uso das máscaras seria abandonado? Os abraços, beijos e apertos de mão contemplariam novamente saudações e cumprimentos? O álcool gel não seria mais utilizado para higiene pessoal? As consultas médicas virtuais seriam proibidas? Atividade laboral, reuniões executivas e aulas de ensino médio e superior seriam presenciais? Os empregos perdidos e as empresas falidas voltariam as suas atividades habituais?
Nossa memória muitas vezes é efêmera e, como consequência disto, algumas recomendações paulatinamente serão descontinuadas após a pandemia. Entretanto, as transformações e as mudanças que ocorreram sobre a consciência humana e seu impacto sobre o mundo perdurarão por muito tempo.
Apesar de muito precoce para conclusões sobre o pós-pandemia, vale ressaltar algumas reflexões sobre o momento em que vivemos.
A saúde constitui nosso bem mais valioso, procure cuidar dela; as medidas de isolamento social e o uso de equipamentos de proteção individual devem ser respeitados, pois estaremos protegendo em primeiro lugar o próximo, e não a nós mesmos; a instabilidade e a insegurança proporcionam o ambiente fértil para o surgimento de mudanças, em especial a oportunidade de transformações em nossas consciências e em nosso modo de agir e de pensar; o ser humano é frágil e indefeso diante de um inimigo oculto, apesar do desenvolvimento tecnológico e científico existente.
Devemos fortalecer nossa resiliência e nossa fraternidade.
*Doutor em Pesquisa em Cirurgia pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, especialista nas áreas de Cirurgia Vascular, Angiorradiologia e Cirurgia Endovascular e coordenador do curso de Medicina da União das Faculdades dos Grandes Lagos (Unilago)