Cidadãos mirassolenses cobram medidas mais efetivas do Prefeito contra o avanço da pandemia na cidade

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Após a opção da gestão municipal de Mirassol por não aderir ao lockdown, o Prefeito Edson Antonio Ermenegildo passou a enfrentar grande pressão popular, sobretudo por parte da classe médica, e também do Ministério Público, que cobrou um posicionamento, visto a crescente de casos e a lotação de leitos no Hospital de Base de Rio Preto, que recebe pacientes de toda a região e já estava na sua capacidade máxima de atendimento.

O movimento impulsionou a decisão de um lockdown reduzido ao final de semana, a partir das 12h do último sábado, preservando, de certa forma, o horário comercial inalterado.

Tal definição não foi vista com bons olhos por quem cobrava medidas restritivas mais contundentes e eficazes. Além da carta aberta da classe médica, o Prefeito agora recebe também o protesto de cidadãos, com mais de 200 assinaturas, cobrando que as medidas de isolamento sejam mais rigorosas nesse momento em que a cidade pouco pode contar com atendimento na cidade vizinha e sequer tem capacidade estrutural de manter e tratar pacientes internamente.

A carta foi assinada por muitos cidadãos e representantes de diversos setores. “Que fique claro que economia não gira com cadáveres; nem com pessoas traumatizadas e desiludidas. Precisamos de líderes que tenham clareza da realidade em que vivemos. É uma realidade dura, difícil de ser encarada. Muito mais fácil é fazer de conta que um hospital de campanha, sem medicamentos e sem profissionais capacitados, ou um final de semana de lockdown servirão de algo. Não servirão”, protestam os assinantes.

Em entrevista ao portal de notícias Mirassol Conectada, o técnico em enfermagem Rubens Origa, que trabalha na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Mirassol, disse que a UPA está lotada com pacientes no quarto de observação e na pediatria. “A área virou uma enfermaria e a emergência da UPA virou uma UTI improvisada”, afirma, em relação ao plantão do último sábado (20). No dia em que concedeu a entrevista, havia 13 pacientes no quarto de observação e 4 na sala de emergência, sendo 2 intubados, totalizando 17 pacientes no espaço improvisado.

Apenas na última semana,foram confirmados 397 novos casos da doença em Mirassol.

“A UPA está sobrecarregada ao máximo, a gente não tem aparelhagem para esses pacientes. Temos 5 respiradores, porém, 2 estão quebrados. Portanto, hoje temos só 3 funcionando. Não temos monitores para todos. Todo dia a gente perde um, perde dois, perde três… Plantão retrasado a gente não tinha onde colocar paciente deitado.Precisamos pegar as macas que ficam nos consultórios, que não são próprias para aquilo, sabe? É muito difícil, a gente não sabe mais em que lugar colocar paciente que vem a óbito”, lamenta Rubens.

Procurado por profissionais da saúde e outros setores da população, o vereador Julio Salomão defende uma união de forças entre instituições, políticos, empresas e população, para que a cidade possa entrar em lockdown garantindo a segurança sanitária e alimentar dos cidadãos. Segundo ele, é preciso seguir a visão científica no enfrentamento da pandemia. “Entretanto, nesse instante, carecemos de políticas públicas que garantam essa segurança tanto sanitária quanto econômica.

Devemos, portanto, unir forças e buscar medidas – como prorrogação de impostos e taxas municipais, assim como maior fomento à ação social e pressionar pela redução das taxas de água e luz, assim como o novo auxílio emergencial – para que consigamos entrar no lockdown de modo que as medidas sejam asseguradas com fiscalização, protocolos que sejam garantidos e respeitados e que toda a estrutura montada seja mantida para garantir a nossa cidade política pública efetiva na área da saúde”, pontua.

Os próximos dias tendem a ser igualmente difíceis no que diz respeito à crescente de casos na cidade, e as próximas decisões serão fundamentais para definir o tipo de ação que a administração pública municipal vai tomar para evitar um colapso ainda maior no sistema de saúde local. Em Nota, a Prefeitura comunicou a criação de um hospital de campanha para aumentar a capacidade de atendimento na cidade, mas não informou data prevista para implantação.

Acompanhe, abaixo, a carta aberta na íntegra:

“No dia 19 de março de 2021, o prefeito eleito de Mirassol, funcionário público cuja função é zelar pelo bem-estar e prosperidade de seus empregadores – a saber: toda a população mirassolense – decretou um lockdown de um dia e meio como resposta à recomendação, embasada e necessária, do Ministério Público estadual publicada no dia 16 de março de 2021.

Que a atual administração carece de atributos que lhe valham elogios está claro, mas devemos reconhecer a audácia em se pretender complacente. Durante a última semana, com hospitais colapsando e corpos se empilhando por todo país, enquanto galopamos à incompreensível marca de 300 mil mortos por COVID-19, assistimos em Mirassol ao surgimento de cartas abertas de diversos setores da população, incluindo grupos de médicos e empresários, pedindo por uma medida firme, que ajude a brecar a catástrofe que se deita sobre nós.

O impasse entre saúde e economia é falso. Temos um grupo de representantes eleitos com autoridade e alcance para criar planos econômicos emergenciais, mediar ações solidárias entre diversos setores da sociedade e mitigar efeitos econômicos de um confinamento. Os efeitos (não apenas) econômicos da doença, das mortes, esses são impossíveis de solucionar.

Nossos representantes políticos mantêm-se inertes. Talvez amarrados a promessas feitas a um certo setor do empresariado local, que vê nas restrições impostas em cidades vizinhas uma oportunidade de negócios, com filas de pessoas se acotovelando para comprar seus produtos e contaminar seus funcionários. Esses senhores de negócios que, ou apertam uma corda ao redor do pescoço dos nossos políticos ou, talvez, segurem à sua frente uma vistosa cenoura podre, acreditam que os muros de seus condomínios, seus barracos rebuscados, os protegerão das consequências do colapso de nosso país, de nossa cidade. Não se intimidam pelo alto índice de infecção dentre seus colaboradores. Ou acreditam-se capazes de parar transmissões, mantendo tudo como está. Se iludem colocando todos nós em risco. Querem espremer desta laranja até as sementes.

Que fique claro que a vacinação não é uma opção agora. Que fique claro que pessoas de todas as idades e classes podem se contaminar e desenvolver sintomas sérios desta doença; morrer. Que fique claro que a ciência é uma só: para brecar a taxa de transmissão é preciso diminuir ao máximo o contato entre pessoas. Que fique claro que economia não gira com cadáveres; nem com pessoas traumatizadas. Precisamos de líderes que tenham clareza da realidade em que vivemos. É uma realidade dura, difícil de ser encarada. Mais fácil é fazer de conta que um hospital de campanha, sem medicamentos nem profissionais capacitados, ou um final de semana de lockdown servirão de algo. Não servirão.

Covardia política é ordinária, não surpreende ninguém, mas negar-se a seguir as recomendações do MPSP vai um pouco além de simples covardia. É cruel.

Edson Antonio Ermenegildo talvez seja lembrado por décadas após seu mandato. Não por ter criado escolas, não por ter investido em saúde, também não por ter tapado meia dúzia de buracos. Senhor Ermenegildo será sempre lembrado por ter nos permitido morrer. Asfixiados.”